06 abril 2006

E nós aqui tão perto...


E nós aqui tão perto…

Por aí, quero dizer, pelas nossas vizinhas ilhas, que em dias de luz e sol nos fazem companhia no azul carregado da distância dos horizontes, andam pai e filho, ilustres actores nacionais, de seus nomes, Ruy de Carvalho, com seu filho João, interpretando a peça “Palhaço de mim mesmo”.
Representam eles em requintados palcos da sorte - Angra do Heroísmo, Praia da Vitória e Horta – resultado duma parceria na área cultural das respectivas Câmaras Municipais.
E nós aqui tão perto…confinados apenas à sorte de termos um edifício magnífico, elogiado pelo seu aspecto e funcionalidades. Vazio está, vazio fica.
A solidão não tem sido total, cabe dizer. Ao longo dos anos da sua existência, vai em 10 se me não falha a memória, há honrosas excepções para espectáculos diversificados nas várias artes de palco: da dança ao musical, teatro, a outros eventos na área cultural. Temos tido ocasião de aplaudir obras com uma envergadura que fica para cima das nossas rotinas. Se verdade, não é bastante e não consola invocar a memória. A vida gira sempre.
O equipamento do nosso Centro Cultural feito a pretexto de dotar de meios a ilha, não foi isento de acusações de despesismo e de outras notificações a invocar prioridades mais gritantes. Tal atitude faz parte das preocupações de tempos antigos ou modernos.
Certo é que existe e é preciso dar-lhe utilidade.

Aqui é terra de pouco e de poucos e as “vacas” estão magras, todos sabemos.
Interrogo-me, cidadã comum, completamente ausente dos custos dum espectáculo, eu que de contas sei pouco e me limito a gerir o meu orçamento familiar, e mais a custo, aquele que me obrigam profissionalmente, se uma peça com dois actores deve impor um custo insuportável? Parece, sublinho parece-me possível, fazer chegar aqui esta interpretação teatral que a crítica baptiza de excelência, sem muito esforço económico.
Pergunto, concretamente ao Senhor Presidente da Câmara, porque não equaciona estabelecer uma parceria com outras Câmaras, para nos abrir as cortinas da vida?
Li e ouvi que as Câmaras acima referidas o fizeram e o resultado está à vista.
Se a nossa insularidade é um manifesto custo, importa vencê-lo.

Terra de muitos representações de palco, a Graciosa ficou só e surda. Palhaço pobre inanimado!

Graciosa, 5 de Abril de 2006
Maria das Mercês da Cunha Albuquerque Coelho