05 março 2008

Repórteres de ilha

Recentemente o Director da RTP Açores foi ao Parlamento Regional para falar da sua missão e da sua televisão.

De acordo com o relatório apresentado pela comissão parlamentar que o ouviu, o Director da TV do Estado "reafirmou a sua aposta na generalização da cobertura de todas as parcelas do arquipélago, através dos "repórteres de ilha" (…)"

Certamente que muito haverá a dizer e a "mexer" na RTP Açores, na sua programação e na sua "orientação" jornalística, que se quer de isenção, pautada pela distribuição equitativa dos "tempos de antena" entre governo e oposições.

Mas esta questão da cobertura regional, conceito pilar da génese da RTP dos Açores, deve ter um tratamento célere, ambicioso e pragmático, sob pena de vermos a "nossa" televisão acabar.

Nos últimos tempos tem sido bastante controversa na Graciosa a cobertura jornalístico-televisiva que a RTP Açores faz deste pedaço da Região.

Muitas são as queixas, algumas das quais bastante assertivas.

Na verdade, muitos são os Graciosenses, aos quais me associo, que se revoltam com a presença intermitente da ilha Graciosa no pequeno ecrã.

É que este pequeno ecrã é grande na sede noticiosa dos nossos emigrados, nos nossos familiares que de longe gostam de saber o que por cá se passa e, não descurando, no potencial promocional desta ilha atlântica, rural e preservada, tão justamente votada, RESERVA DA BIOSFERA.

Estranham todos, por todo o mundo, que não apareça mais Graciosa na nossa televisão. Por cá nada se passa? Perguntam com argúcia.

Fixo-me portanto nesta aposta do Sr. Director da RTP Açores. Esta vontade demonstrada de versar pela diversidade do todo regional, onde a Graciosa, certamente como as restantes, tem muito para dar e para mostrar, mas que não vê o seu potencial noticioso, de divulgação ou de promoção correctamente explorado.

Por vezes pergunto-me, vendo pelo caso Graciosense, e olhando à minha volta por esse arquipélago fora, se uma RTP Açores terá tamanho para tantos Açores, para tanta erupção de cultura, de tradições, de saberes e de notícias

É pois nessa imensidão de motivos que, volta e meia, esbarro nessa RTPA que vamos tendo, nessa falta que nos faz ver mais do que somos, conhecer melhor quem nos rodeia, e dar a conhecer como nos materializamos.

Por isso vejo esta necessidade como um desígnio da nossa televisão.

 As casas começam a fazer-se pela base e culminam no telhado. A base destes Açores são as suas nove ilhas, nenhuma está dispensada.

Acredito que a despesa seja grande e que o provento seja menor, mas essa nunca pode ser a dialéctica da nossa televisão, como não o pode ser para os transportes ou para o acesso à justiça de que agora também se fala.

Na nossa televisão são fundamentais os repórteres de ilha, e são fundamentais a tempo inteiro.

A Graciosa tem um repórter cujo trabalho é reconhecido mas que está subaproveitado.

Não será viável ter uma televisão regional com repórteres em par-time, sem vínculo à casa, e sem perspectivas de futuro. Isto não vai lá com menos que isso e é imperioso que a Graciosa, como as restantes, conte com um repórter a tempo inteiro, pago condignamente e não "à peça", para que possamos ver espelhada na televisão dos Açores, os Açores de corpo inteiro.

 

João Costa

 

Burgalhau

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